A vida traduz-se em letras
segunda-feira, 30 de novembro de 2009
O Que Me Custa Trabalhar
O que me custou não foi teres saído de casa; que tu ías sair de casa, isso já eu sabia. E quem sou eu para te impedir? O que me custa é ver-te todos os dias no trabalho, e pensar que já estivémos casados. O que me custa é pensar no Tiago, de mão na tua mão, de mão no teu cabelo, de lábios nos teus lábios, de lábios no teu pescoço, de... não penso mais, não penso mais, sequer, com medo de fazer alguma coisa que não quero (ou que quero mas que fica mal a uma pessoa fazer).
E no meio disto tudo, durmo numa cama de casal, faço jantar para dois, e acendo duas velas, na esperança de que, a qualquer segundo, tu abandones o Tiago e venhas jantar comigo. Tenta despachar-te, por favor, fiz o jantar há pouco tempo, não tarda nada arrefece e a comida fria não tem piada nenhuma.
Mas deve ser melhor assim, visto tudo: a tua mãe a perguntar-te se eu era o melhor que tu arranjavas, porque parecia que tinha vindo agora mesmo de uma guerra; tu que me pedias constantemente que não fizesse o que queria; eu que respondia, marioneta, aos teus pedidos.
Sim, talvez não fosse de um marido que tu precisavas: talvez precisasses de uma marioneta. E agora cortaram-me os fios, e eu encontro-me desorientado. Mas não te preocupes: eventualmente esquecer-te-ei. Não hoje, não amanhã, não depois. Eventualmente.
Mas o que me custa mais, sabes, é trabalhar contigo e fingir que nunca fomos casados. O que me custa mais é esperar, sozinho, pela tua companhia, se alguma vez te decidires a deixar o Tiago, então volta, sabes que tens aqui, apesar de frio, um jantar preparado para dois.
sábado, 28 de novembro de 2009
C'est La Musique Qui Nous Tue
Ontem, na minha simplicidade, desliguei-me do mundo. Et la fille qui m'a fait chanter dans la pluie, soudainement, monte en ma tête, comme une memoire inconnu. Et elle me dit:
-C'est la musique qui nous tue...
Como um sussurro, como uma fala num filme francês, ela repete:
-C'est la musique qui nous tue...
e repete-se com ela um acorde de Yann Tiersen, que se prolonga, prolonga, prolonga, rumo ao que seria para nós o desconhecido, mas para ela, para ela não, o desconhecido,para ela, já foi tão explorado que não poderá nunca ser desconhecido.
E aquela sensação de ouvir um acorde mesmo certeiro, mesmo onde era necessário, sabem?, quando um acorde (não uma música; um acorde) nos cega, nos torna insensíveis na esperança de o voltarmos a ouvir, e ela repete
-C'est la musique qui nous tue...
num suspiro, num desabafo, ao meu ombro, eu afasto-me car la musique, mon amour, la musique ne me toue pas; c'est toi, c'est ton corp, ton cheveux, tes mots qui me toue. Et la réalité, mon amour, c'est ton âme, c'est ton âme et ta réalité qui me toue. Car quand tu souleves ton feston, mon amour, je suis crispé, je suis admiré, je suis toué.
quarta-feira, 25 de novembro de 2009
Jalousie: La première Valse
Não me é difícil falar com a Maria:
-Maria! Está tudo bem? Queres dançar?
E óbvio que ela diz que sim (ela pensa que não mas eu sei, eu compreendo como ela olha para mim, como ela me fala de maneira diferente, como ela subitamente fica corada se diz algo errado à minha frente), ela diz sempre que sim, por isso não me preocupo.
Uma mão na cintura (e um sorriso na cara da Maria) depois, és tu quem se revela, ao som da primeira valsa. Diriges-me um sorriso, e eu já sei como tudo irá correr.
O leitor vai desculpar-me, o leitor vai desculpar-me mas eu não sou assim, era do champanhe, ou do vinho, ou do que quer que fosse porque eu não sou assim, foi momentâneo, mas precisava mesmo de, ao som daquela primeira valsa, ver-te sofrer, ver-te virar a cara, ver-me dormir, enfim, tranquilizar a minha consciência.
E ao som da primeira valsa dancei, de cintura da Maria pelo braço leve, pés leves, corpo leve, e no entanto uma consciência tão pesada, memórias tão pesadas, constantemente a serem recordadas (tão pesadas!), a contrastarem com a ausência de peso do meu corpo, dos meus braços, dos meus pés, da Maria, elefantes apoiados numa flor, e tu, um sorriso levezinho, por obrigação e etiqueta, mas doía, eu sei que doía (eu queria que doesse), porque imediatamente viraste a cara e eu lembro-me bem dos tempos que passámos juntos (só viravas a cara para chorar, para tirar o lenço da mala e chorar) em que viravas a cara, muito raramente, mas viravas a cara (virava mais eu a cara que tu, bem sabes disso), e o leitor vai-me desculpar, não me julgue, por favor, não me julgue, mas ao som daquela primeira valsa tomei a Maria nos meus braços, aproximei o meu corpo do dela e dancei a ver-te chorar, perdão!, virar a cara, esqueci-me do eufemismo, e dancei por prazer, só eu e a Maria, elefantes apoiados na flor que tu és. E o prazer daquela primeira valsa...
Sim!, o prazer daquela daquela primeira valsa!
sábado, 21 de novembro de 2009
Eu e a Máscara: Antítese e Autobiografia
-Não sou como imaginas que vivo, pois se assim fosse e vivesse, não seria nem quem serei nem quem sou. Porque a chuva é a chuva, e o céu é o céu, e eu sou eu. Não experimentes (não te atrevas a) dizer que a chuva é morte, e que o céu é esperança, e que o amor é uma doença, e que eu sou tudo, porque não são. A chuva é a chuva, o céu é o céu, o amor é o amor, e eu sou eu. Realidades. Acorda, ó mísero poeta desconhecido! Renasce das cinzas inexistentes!
-Não sou quem pensas que sou, pois se o fosse não era. Porque nem o céu, nem a chuva, nem o amor, nem eu sorriem. Não os personifiques. Não são personificáveis. Não os coloques no mesmo grupo. Não são agrupáveis.
-Não sou como imaginas que amo, pois se assim fosse e amasse, não teria amado nunca. Porque deixei de ser eu para ser tudo e todos, porque tudo e todos assumiram o meu papel. Porque sou apenas um reflexo (sou ele..., não!, melhor!, já sei!, sou o outro!) de quem não serei nunca diluído, com que já fui e sou actualmente.
-Não sou como imaginas que penso, pois se assim fosse e pensasse, não pensaria nunca. Porque tu és fruto do meu pensamento, e eu sou obra tua. Eu não sou senão a tua pessoa, que encaro com toda a seriedade. Tu não és senão um reflexo do meu reflexo. Não sou, nem nunca serei teu reflexo nem tua imagem .
Não sou. Deixa-me não ser.
À Filipa, que me faz ser.
quinta-feira, 19 de novembro de 2009
Os Suicidas Falam Baixinho
não penses que te escreverei. também não penses que agora te escrevo. não penses sequer que este pronome ("te") é indicado à tua pessoa, porque não o é. é "te". e basta.
hoje não vou escrever com maiúsculas. hoje não vou falar alto. hoje comunicarei por murmúrios, sussurros, por indicações cénicas. os suicidas falam baixinho. o que se há de fazer?
Voarei
Ou pelo menos para o sentir.
quarta-feira, 18 de novembro de 2009
A Vida e a Evolução
Retrato De Um Sociopata
Um abrir de olhos, e achei-me num monte confuso de metáforas e "clichés".
domingo, 15 de novembro de 2009
Pensamentos
sábado, 14 de novembro de 2009
Carta À Augusta: Um Inverno Em Lisboa
hoje apetece-me recordar.
Onde acolhes, Augusta, um desalojado? Em tua casa, pois lá está.
Sim, não é a melhor rua do mundo (a tua casa em si própria é já um mundo), com as ruas que nela se ramificam (nessas não ponho os pés), com os larápios que espreitam nos cantos dessas ruas, com o Inverno a cair sobre Lisboa.
Em Lisboa, Augusta, quando cai o Inverno em Lisboa (e cai mesmo, subitamente, deita-se e dorme uma soneca no meio do Chiado), tudo é Inverno também. É uma doença, o Inverno que contagia tudo e todos.
Hoje, por exemplo, passei uma tarde num café, Augusta. Já sabes como sou, dão-me um café, e eu ofereço uma tarde. É sempre assim. Nada mudou.
Mas continuando, estava a falar do café. Como sempre fiquei cá fora, de forma a poder ver as pessoas passar. Os Portugueses são curiosos. Tanto falam no seu dialecto, convencidos de que assim ninguém os compreende. E é verdade: os segredos que a nossa língua guarda... A doçura com que eles falam (ainda que venenosamente) não tem comparação possível.
Outra característica óbvia do Inverno em Lisboa, são as ruas. As ruas, sabes, metamorfoseiam-se a seu bel-prazer. Nota-se mais no Inverno: adquirem uma tonalidade semelhante à das ruas londrinas. Talvez seja dos estrangeiros. Talvez seja do Inverno. Não sei, já não percebo nada.
Percebo, no entanto, uma coisa: quando desce o Inverno em Lisboa, desce com ele uma tristeza. Ou se calhar não. Os enfeites de Natal iluminam as ruas portuguesas (com desejos londrinos) e conferem-lhes um sorriso.
Talvez seja isso o Inverno em Lisboa: uma tristeza alegre.
Talvez seja isso o Inverno em Lisboa: uma antítese.
Talvez não passe disso o Inverno em Lisboa: talvez eu imagine demais.
Mas hoje, Augusta, ao ver as ruas duvidosamente portuguesas a verterem lágrimas, ao ver pássaros voarem contra ventoínhas, iluminados por enfeites de Natal, pensei na falta que me fazes.
Sim, agora percebo, é isso o Inverno em Lisboa: a falta que me fazes.
Crónica dedicada (outra vez) à Sophia, que tanta falta me faz.
Novas Doenças
sexta-feira, 13 de novembro de 2009
Crónica Em Formato De Poema
De uma paixão sofrida,
quinta-feira, 12 de novembro de 2009
Diálogos A Um (Nº1)
quarta-feira, 11 de novembro de 2009
Hoje Chove
terça-feira, 10 de novembro de 2009
Uma Cantiga de Amor
estou a estudar Literatura Portuguesa. Hoje tentarei escrever uma cantiga de amor (com refram) em galaico-português...veremos se sou bem sucessido.
Ca Deus quis que por mha senhor
Apaixonado fosse, sofredor,
De todalas coitas; assi sofri
Pois teu esposo de mi se ri,
E eu, de coita me quedo...
Minha'alma, sou surd'e cego!
Pero que Deus quis que assi
Me quedasse, coitado,
Surd'e cego; A Ti, Deus, a Ti,
Espanto'ra meus males e me quedo,
Dexo m'ir enforcado...
Minh'alma, sou surd'e cego!
Espant'and'ora meus males assi,
Me quedo de coita, sofredor.
Eis que (pra sempr') amarei mha senhor,
E quedo de coita, e assi quedo,
Vejo mha senhor um outr' amar,
Que me dexo, assi, matar...
Minh'alma, sou surd'e cego!
Não gostei. Está mal escrita: não tem uma estrutura fixa (nem silábica, nem estrófica), e está falsamente escrito em galaico-português (língua da qual não sou falante)...apesar de tudo, foi uma experiência, uma primeira experiência. Pode ser que da próxima seja melhor.
Um Suicida
Hoje apetece-me ser alguém. Gostava de poder ser Humana, para variar, abandonar o meu corpo e viver por um dia...só gostava de poder
(abrir e fechar as mãos)
sentir o vento,
(correr e saltar),
sentir a chuva a escorrer na minha cara,
(gritar, falar, fazer sons),
sentir que a minha vida nunca terminará.
Infelizmente, não me concederam esse dom: sou uma gaivota, e para nada vivo. Gostava de ser como aquele rapaz ali, que está vestido de preto (não sei porquê), e que se mistura no meio da multidão. Traz um livro na mão (branco, que contrasta bem com o seu cabelo curto e escuro), curioso, vou segui-lo. Pode ser que ele me leve a algum lado
(é sempre bom ir a algum lado).
Saltito por entre a multidão, mas a multidão cobre-me: afinal, quem sou eu para além de uma gaivota?
Abro as asas e encontro-me no ar. Perscruto a multidão na esperança de o voltar a encontrar, e eis que o vejo, num dos bancos de pedra, sentado, a ler. Desço.
Saltito novamente ao encontro dele. Ele enxota-me
(no quotidiano, ninguém quer a companhia de uma gaivota)
com a mão direita, coberta por uma luva branca apenas.
Curiosa figura, esta: todo vestido de preto à excepção do livro e da luva branca que usa apenas na mão direita. Lá terá os seus motivos, e eu não me importava de os conhecer. Posso ser só uma gaivota, mas sou curiosa.
Leio a capa do livro
(sim, sou um gaivota que sabe ler):
"Les Fleurs du Mal", de Charles Baudelaire.
Saltito
(mais uma vez)
pelas costas do rapaz, e olho para o que ele lê. O livro está aberto no capítulo "La Mort", e ele lê um poema chamado"La Fin de la Journée"
(sim, sou uma gaivota com cultura que sabe ler em francês).
Está um dia de sol
(ainda bem, odeio dias de chuva!),
e no entanto, está tão frio...o Inverno deve estar para vir, em breve, se é que já não chegou. Ele não precisa de uma porta para entrar: precisa de uma mão estendida. De uma mão aberta. De um pequeno empurrão.
E eis que o rapaz se levanta. Dirige-se à Torre Vasco da Gama
(não sei porquê, está fechada)
e fica cá em baixo, na base da Torre
(que aborrecimento!)
a olhar lá para cima.
Já vos disse onde moro? Não? Construí o meu ninho no topo da Torre, mesmo lá em cima, por cima da parte aberta aos visitantes, de forma a poder ver tudo o que se passa na EXPO. Nos Olivais. Em Moscavide. Em Lisboa. Nada me escapa.
O rapaz continua a olhar, e não mexe um músculo que seja. Fosse ele quem fosse, perdi todo o meu interesse. O meu único interesse agora é voltar para o meu ninho.
E é isso que faço, abro as asas e subo. Chego ao meu ninho, e olho em volta. Tudo está como costuma estar, à excepção de um pormenor: o rapaz não está lá, na base da Torre. Olho para a parte aberta aos visitantes. Está lá o rapaz. Como é que ele chegou lá tão rapidamente? Tenciono descobri-lo.
E então, doce, triste, e lentamente, como numa longa valsa dançada por dois apaixonados,
o rapaz tirou uma arma do bolso,
(e eu descia, lentamente, descia),
pôs a arma na boca,
(e eu descia, tristemente, descia),
premiu o gatilho,
(e eu descia, não sei porquê mas, descia),
um estampido, um ruido de morte,
(eu descia, com ouvidos que não tenho, descia),
e uma bala, a atravessar a cabeça do rapaz, a dirigir-se a mim,
(e eu descia, tarde demais, descia),
o rapaz achou-se caído numa poça do seu sangue,
(e eu descia, eternamente, descia),
e um livro de poemas, que devido ao sangue que agora o cobria, nunca mais voltaria a ser lido.
segunda-feira, 9 de novembro de 2009
Comentário
domingo, 8 de novembro de 2009
Inverno
Não tenho opinião sobre o Inverno (eu que opino tanto, e que duvido da existência do verbo opinar), senão que é a minha estação preferida do ano:
é tão bom ir à praia no Inverno,
(chove, o céu coberto de nuvens, e eu e tu na areia molhada)
ver o mar zangado do Inverno,
(ele a rebentar os meus problemas)
olhar-me ao espelho no Inverno,
(uma cara coberta de chuva)
ver-te no Inverno,
(tanto tempo sem te ver, e ainda me lembro da chuva a pingar das tuas pestanas)
e, sobretudo, gostar do Inverno,
(sei que chegou porque chove e eu tenho os pés frios)
desta minha estação favorita
(em que chove e eu fico com os pés frios)
em que me lembro de ti, de mim, da praia e do mar, de tudo, de tudo, da lua e das estrelas, de tudo, do sol e dos planetas, de tudo, de tudo o que nos juntava.
Não preciso de um calendário para saber que é Inverno: chove e tenho os pés frios; é quanto me basta.
Também não preciso de um calendário para saber que é domingo
(estou num café da EXPO, chove e tenho os pés frios)
e que estás em casa com o teu marido (eu também gostava de estar em casa com a minha mulher), a rir, alegre, contente, uma alegria cancerígena que se propaga e que eu tento evitar a todo o custo, porque te faz mal,
-Ou não
porque te destroi,
-Ou não
porque te mata,
-Ou não
porque te tira a vontade de escrever,
-Ou não
porque não te quer bem,
-Ou não
garantias que eu, no meu lugar de cronista,
(não de neurocirugião, não de médico bem sucedido)
não te posso dar.
A única garantia que te posso dar é que estamos num Domingo de Inverno: estou num café da EXPO, chove e eu tenho os pés frios.
Quero Morrer Embrulhado Num Livro
(de sonetos de Baudelaire)
gostava de definhar nas páginas
(de um romance de José Eduardo Agualusa)
de um livro
(de crónicas de António Lobo Antunes)
de que eu gostasse, que me tivesse feito
(contos de Edgar Allan Poe)
chorar ou rir, amar ou esquecer, que me tenha feito algo,
(bom ou mau)
que me tenha feito falar, que me tenha feito aprender,
(Literatura ou Comercial)
tanto me faz,
eu
(só)
queria
(quero)
ficar
(morrer)
embrulhado
()
num
(livro)
.
Ainda Te Amo
pelo medo que voltes a fugir
Talvez
Para a Família
Eventually.
sábado, 7 de novembro de 2009
Carta Aberta à SL
Tive de voltar a ler, porque não acreditei à primeira.
"Será verdade?"
Voltei a ler,
(pode ser que acredite à segunda):
"Será verdade?"
Só quando li à terceira,
("Será verdade?")
é que percebi que era mesmo verdade.
Apenas por três vezes as lágrimas me correram dos olhos ao ler um livro( se não contar com alguns sonetos de Charles Baudelaire): ao ler "O Pássaro de Fogo" (Nicky Singer), ao ler "Kafka à Beira-Mar" (Haruki Murakami), e ao ler "O Vendedor de Passados (José Eduardo Agualusa), e todos eles me fizeram chorar pelas mais diversas razões (identificáveis).
Agora dou por mim perante uma novidade: chorar (e desconheço as causas que me levaram a isso) por causa de um comentário. E fizeste-me pensar seriamente naquilo que sou (ou pensava ser)... se calhar foi por isso que chorei, não sei, mas não é isso que interessa. O que interessa é que me fizeste pensar.
Fazes ideia do grupo de pessoas que me fazem pensar? Não? Eu dou-te uma ideia: conto-as pelos dedos das mãos (vá, juntemos a elas os pés também), e é só isto.
Passei o dia inteiro a perguntar às pessoas se sabiam quem tu eras, na esperança de me encontrar contigo ,
(por acaso)
mas é tão simples
(até sei quem és)
porque já me disseste quem eras,
(o teu nome é SL)
e eu não te encontro.
Só te quero dar os parabéns, SL, porque me fizeste ter um dia de reflexão sobre a minha pessoa, um dia de aprendizagem sobre a minha Filosofia, e sobretudo um dia de reflexão sobre a única coisa (eu que nem gosto de dizer "coisa") que te quero dizer:
-Chamas-me Cronista, e agradeço-te por tal (duvido que me possam fazer maior elogio), mas se eu sou Cronista, então quem és Tu?
E tudo isto porque acho que fizeste uma interpretação tão
(e tanto quanto te foi possivel, perdoa-me se interpretei mal as tuas palavras)
tua...
E, ainda assim, viste-me lá.
Obrigado.
Um beijo,
João de Matos
P.S. -Desculpa a eventual desordem em que esta carta te chegar, mas não me dei (nem me vou dar) ao trabalho de a reler. Quero que a leias crua.
A Uma Desconhecida
E, pela primeira vez, não foi de tristeza...
sexta-feira, 6 de novembro de 2009
Deixa-me Sorrir
Já que me sento ao teu lado em geografia, vou por a minha teoria em prática: a tua mão está lá (disso eu tenho a certeza) em cima da mesa, e a minha, a deslizar em direcção à tua, como quem não pergunta nada e passa directo à acção (era isso que tu querias que o Pedro fizesse no teu encontro, eu sei porque o disseste em voz alta e eu estava lá, estava lá mas tu não me vias), a minha mão em cima da tua, a tua mão a fugir, e tu a sorrir, a sorrir, a sorrir.
No outro dia vi-te na rua, mulher feita de homem pelo braço, e eu não me controlei (impulsos reprimidos não se podem controlar, acho eu), simplesmente cheguei-me ao pé de ti, e
-Lembras-te de mim?
recebi aquela resposta que era a origem do meu amor por ti
-Não
e eu não me controlei
(penso que é impossível de se controlar impulsos reprimidos durante quinze anos)
-Um dia destes queres casar-te comigo?
(porque pensava que o casar-se era o ir a algum lado dos adultos, perdão pelo meu erro)
e não me bastou ter levado uma sova do Pedro, como tive de te ver a ir embora
(mulher feita de Pedro pelo braço)
a sorrir, a sorrir, a sorrir.
À Sophia, que nunca me desapontou.
quarta-feira, 4 de novembro de 2009
O Divórcio
Trata-se de um assunto sobre o qual eu (que tenho apenas 15 anos e tanta experiência de vida como uma mosca da fruta), ignorante, julgo não conseguir perceber. A minha dúvida é a dúvida de sempre: porque é que eu me sinto assim?
Pode parecer egoísta, eu sei, afinal são os meus pais que se divorciaram, mas obviamente que tal divórcio também se reflecte em mim, certo? Obviamente que eu também tenho direito a sentir-me mal, certo?
Mas sabem, agora digo-vos em confidência (o que é uma impossibilidade que seria interessante de explorar numa outra crónica): o pior de tudo é sentirem-se únicos. Eu, que espero a singularidade como quem espera um casamento feliz, sinto-me mal por não haver mais ninguém como eu. Não faz sentido, pois não? Bem me pareceu. Gosto de falar convosco, vocês compreendem-me.
Acontece que agora, já nem me posso sentir mal sequer! É verdade: no outro dia, numa conversa com uns colegas de turma, vim a saber que mais de metade deles, tal como eu, são filhos de pais divorciados. Isto levanta-me dúvidas interessantes: vamos supor que todas as turmas da escola são como a minha. Sendo assim, mais de metade dos meus colegas de escola têm pais divorciados. E eu, no meio disto tudo, já não sou único coisíssima nenhuma! Bolas!
Bem, se vamos falar dos meus colegas de escola, aproveito para dizer: cinco deles têm gripe A. Têm de andar pela escola de máscara pela boca, com toda a gente a apontar o dedo, a comentar, a (e é triste de se dizer) afastarem-se deles, de modo que eles criam um corredor de alunos por onde passam (quando tenho pressa para saír da escola costumo ir atrás deles, qual TGV humano).
Novamente digo: tenho 15 anos, e não tenho idade para compreender o divórcio. Para mim, o divórcio é como a gripe A: uma doença. Só que para o divórcio aínda não há vacina.
E é por isto que fico chocado: cinco colegas da minha escola (cinco!) têm gripe A, e toda a gente foge deles a sete pés, obrigam-nos a usar máscaras, apontam-lhes o dedo e comentam; mais de metade (mais de metade, mais de metade!) da escola sofre de pais divorciados, mas ninguém foge deles, não têm de usar máscaras, ninguém lhes aponta o dedo nem nem ninguém comenta.
Talvez um dia, quando inventarem a vacina para o divórcio, isto mude. Talvez quando apareça uma vacina para isso, as pessoas percebam que o divórcio não é tão bom como isso. Talvez um dia andemos todos a fugir uns dos outros como medo de apanhar um leque de doenças.
Amanhã vou para a escola com um saco de seringas na mão, distribuir vacinas contra o divórcio. Mas pergunto: será que é possível vacinar alguém que não quer ser curado?
Crónica dedicada à Diana, ao Tiago, e à Leonor (que conheço somente através um comentário a uma das minhas obras), por seguirem tão atentamente estas crónicas.
Eis que eu surjo aqui.
segunda-feira, 2 de novembro de 2009
Pedido de Desculpa aos Devoradores de Vírgulas
Quero apenas pedir desculpa aos meus Devoradores de Vírgulas, mas nos próximos tempos terei algumas dificulades para publicar novas crónicas. Afinal, os romances não se escrevem sozinhos...