A vida traduz-se em letras

domingo, 15 de novembro de 2009

Pensamentos

Querida SL,
Faz hoje uma semana que não te vejo. Vontade não me falta, mas falta-nos disponibilidade a ambos. Talvez seja por isso que os nossos mundos parecem diferentes. Mas não o são. O meu mundo alimenta-se da rotina, tal como o teu. Rotinas que por vezes parecem inconciliáveis.
O que me sobra então, SL, se não te posso ver sequer? Uma memória, um conjunto de gotas de água que se escapam nos meus dedos. Perdem-se, vão-se perdendo à medida que sofrem as consequências do tempo. Mas não se esquecem. Não. Esquecer nunca.
Mas o que me sobra então, senão deixar a minha mão dentro desse rio que corre? Pouco mais: uma imagem. Duas. Três. Imagens.
Sim, SL, hoje admito publicamente: fazes-me falta. Passei tanto tempo (e que quantidade de tempo!) a pensar que não, que era impossivel, que mais valia eu ficar quieto e deixar-te fugir com outro. Em vão, agora percebo, em vão.
Agora sento-me, e deixo-me sentado, observo a tinta das paredes a secar, a chuva a cair, a monotonia que é a vida, o cansaço de estar vivo reflectido no meu rosto, e levo-me, acho-me (ou perco-me, já disse milhares de vezes que já não tenho certezas de nada) perdido em rios metafóricos, constituidos por milhares de gotas de água que não é água. Questiono-me sobre a existência desses mesmos rios, por isso mergulho, banho-me, sim, vivo, só lá posso viver, nesses rios metafóricos (que metáfora tão real...) do meu mundo e do teu, porque na realidade, SL, no mundo real da realidade, não nos vemos há uma semana, e eu tenho saudades tuas.
Conclusão: um dia hei-de me afogar.
Um beijo do teu,
João
Post Scriptum -Um rio, uma metáfora tão verosímil...

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