A vida traduz-se em letras

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Filipa

Começo a ficar farto de dedicar crónicas a pessoas. Sinto que é uma desvalorização dos leitores: afinal, se o leitor actual não for a Filipa, esta crónica não é destinada a si. Mas se estou assim tão farto, porque é que continuo a dedicá-las? A resposta é simples: porque a Filipa a mereceu.
Sabem, a Filipa é, de facto, deveras singular. Já lhe disse uma vez
-Acho que tens dupla personalidade,
porque parece, a sério que parece! Vocês, que não a conhecem, não fazem ideia, mas eu acho que se houvesse uma entrada no dicionário para "Dupla Personalidade", o verbete não passaria de uma fotografia da Filipa.
E o Tiago, que está sentado no meu sofá, a ver televisão
(bolas, como odeio o Telejornal!)
ele não me diz nada, mas eu bem sei que ele se irá levantar, e perguntar-me-á
-Então, mas a moça é a tua melhor amiga, e tu estás a dizer mal dela? Aínda por cima numa crónica, devias era dizer todas as qualidades dela!
e eu mudo, e eu calado, porque tu não a conheces Tiago, tu não a conheces como eu, porque se a conhecesses, saberías que a dupla personalidade é a melhor característica da Filipa.
Às vezes pergunto-me se ela existe: não porque gosto de filosofar, mas porque ela me parece apenas um conceito, um algo de muito abstracto, não pode ser real, simplesmente não pode, a perfeição não existe da mesma forma que a imperfeição não existe, e tu, Filipa, não podes ser real, não podes mesmo, porque se me dizes
-
não posso reproduzir o que me disseste porque o papel não fala, as letras não têm o teu tom de voz, e no entanto ele está-me marcado na cabeça, a repetir
-
e eu, sem resposta,
(nunca me tinham dito
-
juro que nunca mo tinham dito, e eu embasbacado)
abraço-te, porque me fizeste sentir bem sem que sentisse algo por ti, e sabes Filipa, eu que me apaixono com tanta facilidade, nunca me apaixonei por ti
(és a minha melhor amiga, esta é a mais pura das verdades, jamais te mentiria)
porque és só um conceito, um abstracto, um inexistente, e no entanto estás lá, nunca me deixaste e eu pergunto-me porque é que nunca senti nada por ti para além de amizade,
(eu que me apaixono com tanta felicidade, e tu que és tão bonita)
se calhar porque foste
és
serás
a minha melhor amiga, espero que não o deixes de ser, Filipa, porque nunca me apaixonei, a sério que nunca me apaixonei por ti, apesar de tua dupla personalidade,
-Maravilha!
apesar das confissões que já me fizeste,
-Uau!
apesar de me teres dito
(acho que agora já o consigo reproduzir, não vai ter o teu tom de voz mas o meu, espero que não te importes)
-No outro dia, fui meia hora mais cedo para a igreja e fui rezar por ti.
-Espantoso!
e eu,
(eu!)
não fazes ideia, Filipa, a sério que não fazes ideia porque
(peço desculpa ao leitor, mas esta frase agora é mesmo apenas para ela)
quando o disseste,
(nunca me apaixonei, a sério, nunca me apaixonei por ti)
senti-me tão bem,
(porque és a minha melhor amiga, prometo-te que foste, és, e farei os possíveis para que continues a ser a minha melhor amiga)
amado,
(não que eu gostasse de ti, porque não gosto
aliás, gosto, mas como amiga, a sério, só como amiga)
protegido,
(e sei que não gosto porque tu foste a primeira)
singular,
(rapariga que me fez sentir bem, e que nunca me fez sentir mal, ao contrário do meu Dia,
nostalgia
ao contrário do meu Pássaro de Fogo,
paixão platónica e incontrolável
ao contrário da Ma Passante,
que eu amo em silêncio, )
concreto e no entanto,
(todas elas, sem excepção, por um momento ou outro, me fizeram sentir mal, tu não, tu nunca, tu sempre me fizeste sentir bem, se calhar porque não passas de um conceito, de um abstracto de um)
irreal.


Um dia destes escrever-te-ei a crónica que me pediste
(hoje não, hoje és tu o tema)
e perguntar-te-ei
-Gostaste?
só para ouvir qual das tuas personalidades me irá responder.

1 comentário:

  1. Ao ler esta crónica não poderei deixar de dizer que enquanto a lia me parecia ouvir a tua voz...
    Esse teu jeito singular ao quadrado (se é que o posso dizer), essa tua maneira poética e leve de articular as palavras!
    Sinto-me sem duvida emocionada (e tu sabes o quanto me custa admitir)
    Bem... sem querer divagar muito, eu não só gostei como fiquei surpreendida com esta crónica. Confesso... Não estava de todo á espera.
    Sabes o valor que tens, sabes a particularidade que tens em ti entre muitas outras coisas que agora não vou numear, e apesar disso não cais num poço sem fundo onde certamente é dificil de alcançar o seu fundo. E talvez por seres como és notas esta "dupla personalidade" que dizes existir em mim.
    Lembra-te meu amor, nunca desvalorizes o maior valor (tu)
    Espero ter sido clara com esta divagação toda (o que se torna um pouco impossivel)

    Espero, ansiosa, o desafio que te lançei há dias. Demora o tempo que for preciso, pois para ler crónicas tuas sou capaz de esperar dias, meses e até anos.
    Pareces ficção que nos pode parecer inverosímil, mas no fundo... bem lá no fundo és bem real. Sempre o serás independentemente do dia de amanhã.
    Gosto imenso de ti meu pequeno grande Escritor!

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