Tenho um amigo.
Ele é poeta.
Faz sonhos com palavras.
Ele é mais alto que eu.
E também tem cabelo mais comprido.
Um dia ele disse-nos:
«Morri».
Mas na altura ele não percebeu
Que nunca tinha vivido tanto.
E escreveu.
A chuva misturou-se com as palavras
E as tílias deram forma ao poema.
Ele destacou-se.
Todos o admiravam.
Poucos gostavam dele.
Era amado por uma
E respondia reciprocamente.
Ele destacou-se:
No entanto
Ninguém percebeu que o poeta,
No final do dia,
Não era mais que uma tília
Ou um plátano
A correr na alameda do Camões.
Tenho um amigo, sim,
Ele é poeta.
E ele não vai morrer nunca.
Tenho um amigo.
E ele é poeta.
E é quando escrevo.
Ele fala-me ao ouvido.
E o cadáver deixou-se levar
No centro das tílias da alameda do Camões
Contemplando os plátanos
Numa indiferença de morto
(Que ele não atingiu nunca)
E o olhar esbugalhado
Que contemplava o céu
Procurava um corvo
Que lhe dissesse Nunca mais.
Não chovia.
A vida traduz-se em letras
sábado, 12 de junho de 2010
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devias (se não o fazes já) ler Poe.
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