A vida traduz-se em letras

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Retrato De Um Sociopata


E ela corre, corre, corre... gosto de as ver correr.

É simples, claro que ninguém desconfia de um rapaz loiro de vinte anos. Claro que ninguém desconfia de um rapaz que se veste de fato. Claro que ninguém desconfia de um rapaz que saiba usar a sua Língua (materna e seis estrangeiras) apropriadamente. Isso torna uma abordagem fácil, é só dirigir-me a um bar (é tão simples) e fazer-me a uma delas. Tenho especial preferência por raparigas de olhos azuis. E os olhos delas... sabem aquela sensação, (esqueçam, é claro que não sabem) de prazer, de felicidade, de recompensa, por verem os seus belos olhos azuis tornarem-se aos poucos e poucos vidrados? Eu sei. Aprecio-a.

E depois elas correm, correm, correm... como se ainda tivessem salvação possivel. Mas já não têm. Eu sei o que faço, e sei que, a partir do momento em as abordo, elas já não podem sair da minha abordagem. Xeque-mate. Ganho eu.

Um bar.

-Boa noite...

Um tom de voz baixo e sedutor.

Um sorriso como resposta.

Um diálogo.

Um convite para vir até ao meu carro.

Um convite para tomar uns comprimidos giros que eu tenho.

Ela a tomar Droperidol como uma maluca e eu a ver.

Ela a desmaiar no banco da frente do meu carro.

Uma bola pequena na boca dela e fita gomada.

Uma corda nos seus pulsos.

Uma corda nos seus tornozelos.

Uma rapariga no meu porta-bagagens.

E eu a conduzir pela IC19 às dez da noite.

Uma música (I'm singin' in the rain) a tocar na rádio.

Eu a acompanhar a música.

A rapariga a começar a acordar e a debater-se.

Eu despreocupado, ninguém nos pode ouvir.

Um carro a estacionar á porta da minha casa de campo.

Eu a sair do carro e a abrir o porta-bagagens.

A rapariga a chorar.

Eu retiro a mordaça que improvisei.

Ela a gritar por socorro, por favor, por perdão.

Eu a não atender a nenhum dos pedidos dela.

Uma rapariga no meu ombro.

Eu a entrar em casa.

Uma rapariga a ser pousada numa cadeira de madeira.

Os pulsos da rapariga a serem amarrados à cadeira, sob a ameaça de uma faca de cozinha.

A rapariga a chorar, a chorar, a chorar.

E eu quero ver os seus olhos azuis.

Corto-lhe o lábio com a faca.

O sangue dela começa a correr.

Ela continua a chorar, a chorar, a chorar.

-Não te preocupes. Tudo acabará depressa.

Um abrir de olhos, e achei-me num monte confuso de metáforas e "clichés".

Ao Jordann, e a todos os que, ao lerem este texto, tenham sentido um arrepio na espinha.

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