A vida traduz-se em letras

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Hoje Chove



EXPO (Lisboa), 7 de Novembro de 2009



Hoje chove, e eu não estou em casa. Encontro-me (ou perco-me) na EXPO, num café, a ver as pessoas passarem de guarda-chuva aberto, a ignorarem o facto de eu estar todo vestido de preto, à excepção de um livro e de uma luva (que empunho na mão direita) branca. Sou invisível. E gosto de o ser.

Tenho um milhão de crónicas já escritas na minha cabeça. Escrever uma, para mim, é uma experiência semelhante a abrir uma lata: sei o que está lá dentro, mas fico sempre surpreendido com o que vejo.

Mas não são as crónicas que me passam pela cabeça; muito pelo contrário. Questiono-me acerca de tudo. Ontem, numa conversa de tom jocoso, o Paulo (que é das pessoas mais interessantes que conheço) disse: "De onde vim? Quem sou eu? Para onde vou? São estas as perguntas pelas quais a vida de um Homem se rege... e há pessoas que se matam por isso." (se calhar não foram bem estas palavras, mas a ideia está explícita).

Pois, de facto há pessoas que se matam por isso,

(«Curioso...)

mas se elas querem errar,

(quase que podia jurar)

então deixem-nas aprender com os seus erros

(que aquela gaivota está a olhar para mim»).

Hoje chove, e eu não estou em casa. Encontro-me (ou perco-me) na EXPO, num café, a ver as pessoas passarem de guarda-chuva aberto (quase nem chove...), e a ignorarem-me. Afinal, que atenção se pode dar a um cronista em plena crise existencial? Duvido que alguma, e duvido que caso se possa dar, o cronista a aceitasse...eu sou assim, deixem-me aprender com os meus erros.

Acontece que pergunto à chuva sobre a chuva: De onde vens? (-Das nuvens), Quem és tu? (-A chuva), Para onde vais? (-Eventualmente voltarei a uma nuvem), mas ela não me diz o que queria ouvir. Gostaria de ouvir umas respostas um pouco mais pensadas, filosóficas... como eu as dou. Já que és, ó chuva, uma personificação da minha autoria, ao menos podias responder como eu gosto, não?

Parece que não.

Hoje chove, e eu não estou em casa. Encontro-me (ou perco-me) na EXPO, num café, a ver as pessoas passarem de guarda-chuva aberto e a ignorarem-me. Sou invisível, um presságio, e é melhor assim, uma pequena morte para que muitas mais vidas prevaleçam. É melhor assim. Tem de ser melhor assim.

Observo a chuva: De onde vens? ( -Dos teus olhos), Quem és tu? ( -Chama-me lágrima), Para onde vais? ( -Estou numa viagem longa, uma busca eterna até encontrar um obstáculo que me desfaça).

Só assim a compreendo.

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