A vida traduz-se em letras

sábado, 2 de janeiro de 2010

Quando Os Olhos Se Fecham

Saiu apressadamente, correndo porta fora. Ainda se vestia quando estava a sair do meu quarto. Abriu a porta da minha casa e, subitamente, parou.
- Então...vemo-nos mais logo?
E pronto. A felicidade, sim, a felicidade de ela querer estar comigo.
-Sim, claro que sim. Depois mando-te uma mensagem, ou isso.
Ela sorri-me. Eu sorrio-lhe. Ele dirige-se ao carro dela, que está estacionado à porta de minha casa. E aconteceu tudo tão devagar...
Ele estava zangado (ou então era...bem, não sei, alguma coisa seria), e levou a mão dele de encontro à cara dela. Ela cai. E eu observo. Observo o pé dele a baloiçar para a frente e para trás, para a frente e para trás, para a barriga dela e para longe da barriga dela, e ela tosse, e ela cospe sangue, e eu observo. Mudo. Aterrorizado. Impotente pela faca cúmplice que, entretanto, me fora aplicada ao pescoço.
Pela altura em que ele termina, ela estende-se pelo passeio. Corre-lhe sangue de vários lugares diferentes do corpo.
A minha boca ainda sabe à boca dela. O meu corpo ainda tem o seu cheiro. A memória dela e da nossa noite ainda prevalece. Mas foi confrontada com a realidade. E a realidade é que ela está estendida no passeio, e corre-lhe sangue de vários lugares diferentes do corpo.
Ninguém viu. Devia ser demasiado cedo para as pessoas verem. Ou então viram e preferiram não ver. Fecharam os olhos, mas aposto que eles não vêem nada quando fecham os olhos. Eu vejo. Eu vejo, sabem? Eu vejo.
É mesmo fodido, fechar os olhos e lembrar-me de tudo.

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